Proibido, escrito pela Tabitha Suzuma e publicado pela Editora Valentina em 2014, é um livro intrigante e extremamente denso. Com apenas 304 páginas, Proibido consegue tirar o fôlego dos leitores abordando um tema tão polêmico e pouco discutido em livros voltados para o público jovem.
Enredo e personagens
Proibido começa proporcionando ao leitor uma boa perspectiva da família Whitely, seus integrantes e sua rotina. Dividido entre as narrativas de Lochan e Maya, o livro nos apresenta claramente os pontos de vistas dos dois protagonistas. Com isso, o leitor consegue compreender fielmente o que se passa dentro da cabeça dos dois personagens, assim como seus sentimentos, medos e conflitos interiores. O enredo é simples porém intrigante e escandaloso: incesto. Ou como Lochan e Maya iriam preferir que eu descrevesse: o amor entre duas pessoas que acidentalmente vieram a ser geradas pela mesma mulher. Lochan e Maya são irmãos, irmãos mesmo, de sangue. Não adotados ou meio-irmãos, irmãos de verdade. E se apaixonam.
Lochan e Maya tem mais 3 irmãos menores: Kit, Tiffin e Willa (em ordem decrescente). Esses 5 irmãos foram abandonados pelo pai e estão sendo criados pela mãe, porém a mesma se comporta feito uma adolescente passando noites fora de casa e chegando bêbada, sem dar a mínima para as tarefas de casa, quiça as tarefas maternas. Ela diz se importar com eles, mas claramente está mais interessada em agradar o chefe Dave, com quem namora e passa a maioria noites fora “curtindo a vida” e recuperando os anos perdidos. Com isso, todas as tarefas da casa ficam por conta dos dois filhos mais velhos: Lochan e Maya, com respectivos 17 e 16 anos.
Com essa rotina de dar café da manhã aos irmãos, leva-los na escola, ajudar nas lições de casa, fazer todas as refeições e tarefas de casa e por fim, coloca-los para dormir, é comum que Lochan e Maya se sintam quase como os verdadeiros “pais” dos seus irmãos. Eles se sentem esgotados dividindo as tarefas, ambos estão com uma carga de responsabilidade enorme nas costas com a ausência da mãe e a falta de uma boa estrutura familiar, a única coisa que eles tem é um ao outro, só podem contar um com o outro para manter a família unida e funcionando.
“Não há leis nem limites para sentimentos. Nós podemos nos amar tanto e tão profundamente quanto quisermos. E ninguém, Maya, ninguém vai poder jamais tirar isso de nós.”
Desde muito novos, Lochan e Maya foram obrigados a tomar as rédeas da família e se virar, os dois sempre foram muito unidos e só tinham um ao outro para se apoiar. Segundo Maya, eles nunca foram apenas “irmãos”, mas sim companheiros, Lochan sempre foi seu melhor amigo e porto seguro, e sempre o amou acima de qualquer outra pessoa no mundo, e Lochan se sente da mesma forma. Uma dança, um leve toque, e um “quase beijo” foram o estopim para que ambos admitissem aqueles velhos sentimentos que há tanto tempo vinham guardando, disfarçando e tentando se convencer de que não era nada. Sentimentos que poderiam causar grande destruição.
“O ser humano precisa de um fluxo constante de nutrição, oxigênio e amor. Sem Maya, eu perco todos os três; separados, morreríamos lentamente.”
Uma mãe alcoólatra, irresponsável e ausente – pois ela praticamente já não estava mais morando com os filhos – e 5 menores de idade sem acompanhamento de algum familiar ou responsável… Bastava apenas uma ligação da escola ou algum vizinho desconfiado procurar a polícia e seria motivo suficiente para que as autoridades separassem as crianças e as mandassem para o Conselho Tutelar. Todo cuidado e discrição ainda era pouco para esconder a ausência da mãe, imagine só o que poderia acontecer se o romance de Lochan e Maya fosse descoberto?
Minhas impressões
O livro é muito bem escrito e aborda o tema, mesmo algo tão polêmico, de forma sutil. Os personagens são muito bem trabalhados de forma que o leitor os conhece afundo, conhece seus medos, seus receios, suas limitações e seus sonhos. Lochan e Maya são um casal apaixonadíssimo e isso fica óbvio ao ler poucas páginas do livro, quase como se estivesse escrito em suas testas, caso viéssemos a conhece-los. É nítido que eles se amam verdadeiramente, e se a autora não tivesse explicitado que eles são irmãos, ninguém poderia dizer. Quando eles estão afastados, tudo vai mal, a família desanda, e quando eles estão bem, o clima da casa é outro, eles fazem todos felizes. O difícil é quando entramos nos temas incesto, ilegalidade, crime, religião… tudo isso se mistura e sabemos que é simplesmente imoral que um relacionamento desses seja permitido. Mas o problema aqui é que entramos em questões extremamente complexas, que deixam o leitor em cima do muro, que nos fazem duvidar de nossas próprias convicções e fazer questionamentos mais profundos. Ninguém tem respostas prontas pra esse tipo de questão, é normal que nós precisemos de tempo para refletir, e um livro como esses proporciona isso, esse momento de reflexão, dúvida e questionamento.
Eu nunca tinha lido nada a respeito desse tema, pelo menos não em formato de ficção, observando uma história como essa, sob essa perspectiva. A leitura foi muito rápida e fluída, a autora consegue captar nossa atenção e nos mantém atentos do início ao fim do livro na expectativa de saber o desfecho de Lochan e Maya. Quando comecei a ler e percebi que se tratava se incesto, não achei que eu fosse gostar do livro, mas ao final do livro eu me peguei cheia de dúvidas e confesso que já estava torcendo pelo final feliz do casal.
É um livro extremamente denso, de muita crítica social e que chama atenção dos leitores. Ainda assim não dei 5 estrelas porque demorei um pouco a ser convencida pelo tema e não seria algo que eu me interessaria a ler de cara, mas acabei tirando muitas lições e reflexões do livro. Vale a pena a leitura!