Lady Susan é uma obra epistolar curtinha escrita por uma das mais aclamadas autoras de romance Clássico, Jane Austen. Esta obra destoa completamente de todas as obras que já li da autora, não apenas por sua estrutura epistolar, mas também por seu tom explicitamente ácido de crítica. Publicado originalmente pelo sobrinho da autora em 1871.
Muitos especulam a data específica em que a autora teria escrito esta obra, já que foi publicada apenas em 1871 após a a morte de Jane Austen (1775 – † 1817), por seu sobrinho James Edward Austen-Leigh. Estima-se que possivelmente tenha sido escrita em meados de 1793 e 1795, quando ela tinha menos de 20 anos e começava o romance atualmente conhecido como “Razão e Sensibilidade”.
Enredo e personagens
Lady Susan, protagonista que dá nome ao livro, é uma jovem viúva de 30 e poucos anos, extremamente fútil e interesseira. Esta belíssima jovem ficou viúva há poucos meses e tem uma filha adolescente, Frederica, a quem ela mal dá atenção ou importância. Lady Susan encara a vida social de forma bem diferente das pessoas ao seu redor, ela enxerga os homens como meros peões em seus jogos de persuasão. Ninguém está a salvo de cair em suas garras. Os homens a desejam e as mulheres a odeiam. Lady Susan possui apenas uma amiga íntima, Mrs. Johnson (Alícia), a quem ela confidencia todos os seus segredos e planos.
“Há um prazer primoroso em domar um espírito insolente, em fazer uma pessoa predisposta à antipatia reconhecer a superioridade da outra”
Após passar uma temporada em Londres, Lady Susan, que na época estava muito envolvida com um homem casado, decide se afastar um pouco da alta sociedade, já que rumores sobre sua pessoa estão começando a circular. Ela então decide ir para o interior e se hospedar com sua filha na casa de seu cunhado, Mr. Vernon. Apesar da boa hospitalidade do cunhado, sua esposa – que nunca se iludiu a respeito do verdadeiro caráter de sua hóspede – não está nada satisfeita com a presença de Lady Susan na casa. O irmão de Mrs. Vernon ouviu vários rumores sobre a promiscuidade e falha de caráter de Lady Susan e está disposto a averiguar tais fofocas, portanto resolve ir visitar sua irmã por alguns dias.
Como já era de se esperar, Lady Susan consegue persuadir muito bem tanto o cunhado quanto o irmão de Mrs. Vernon, e facilmente os conquista com seus encantos e falsa fragilidade. Enquanto isso, Frederica está sendo praticamente forçada a um casamento arranjado por sua mãe. Lady Susan não está acostumada a ser contrariada por ninguém e não deixará nada por baixo, nem as alfinetadas da cunhada, nem muito menos a petulância de sua filha em contrariar suas ordens. Ela é extremamente astuta e manipuladora, e fará de tudo para impor sua vontade. Frederica é totalmente o oposto da mãe, é uma menina acuada e submissa, a pobrezinha poderá apenas contar com a ajuda de sua tia, Mrs. Vernon, e esperar que as pessoas percebam que realmente é Lady Susan.
“Há algo agradável em sentimentos tão facilmente manipuláveis, não que eu o inveje por tê-los – nem eu mesma os teria, por nada neste mundo – mas são tão convenientes quando um deseja influenciar as paixões do outro!”
Minhas impressões
Esta é uma obra surpreendente da Jane Austen! E digo isso especialmente devido ao fato de se diferenciar tanto das demais. Lady Susan é absolutamente diferente, foi até difícil visualizar a mão da Jane Austen ali. É como se estivéssemos conhecendo uma outra Jane Austen, uma outra faceta da autora.
Em todos os outros romances da Austen que li (este é o sétimo que leio) ela aborda a crítica social de forma extremamente sutil, as alfinetadas a sociedade sempre estão muito bem disfarçadas em forma de ironia e sarcasmo, presentes nos diálogos dos personagens. Neste livro, Austen aborda explicitamente o adultério, a maldade e a falsidade através do comportamento de Lady Susan. A personagem é abertamente dissimulada, promíscua e aproveitadora, seu caráter é sujo, maquiavélico e inescrupuloso. Lady Susan não possui nenhum princípio moral, age apenas em prol de seus interesses. A construção da personagem é perfeita em todos os aspectos, eu nunca havia visto nenhuma personagem da Jane Austen sob tamanha clareza.
Apesar de ser escrito de forma epistolar – ou seja, através de cartas – o enredo é extremamente envolvente e prende a atenção do leitor de imediato. É um livro para se ler em uma “sentadinha”. A temática prende nossa atenção e as vezes nos pegamos torcendo para que a “vilã” consiga concretizar seus planos (o que é terrível! rs).
A edição da Pedrazul Editora está impecável com sempre, trazendo uma introdução muito interessante sobre a obra, que antes era considerada parte das obras inacabadas da autora. A edição também traz lindas ilustrações de Hugh Thompson, além do perfeccionismo de sempre da editora em combinar a folha amareladinha, com fontes lindas e uma diagramação maravilhosa. Aquele capricho!