A Menina Submersa: Memórias é um thriller psicológico que aborda temas inusitados e caminha entre os cantos mais obscuros da mente humana deixando o leitor em um frenesi tão delirante que o faz sentir todo o terror de estar na pele da protagonista. O livro, ganhador do prêmio Bram Stoker Awards 2013, foi publicado em 2014 em primeira mão aqui no Brasil pela DarkSide Books e este ano ganhou uma repaginada mais que merecida, a Limited Edition está de matar.
Como muitos de vocês sabem, li este livro ano passado, até organizei um Debate Literário aqui na minha cidade (veja fotos) e a mesa redonda contou com a participação de um jornalista, uma psicóloga e um militante do movimento LGBT para aquecer a discussão. Houve um frisson a respeito desse livro na época e com toda a divulgação e evento eu acabei não publicando resenha, no entanto eu não poderia perder a oportunidade de mostrar essa Limited Edition maravilhosa pra vocês e contar mais sobre essa história por aqui!
A Menina Submersa: Memórias é um livro impactante e divisor de águas para quem gosta de leituras sombrias, profundas e que fazem o leitor sair da sua zona de conforto literária (eu adoro). O livro adentra a mente da protagonista e se desenrola a partir das memórias de sua vida, tentando separar o que é real do que é ilusão. A história é narrada pela própria protagonista, a India Morgan Phelps, que tem um histórico genético de esquizofrenia e paranóia, sua mãe e sua avó sofriam da doença e recorreram ao suicídio como forma de escape. Imp, como é apelidada, escreve um livro de memórias onde ela conta em tom confessional ao leitor tudo que está vivendo (ou já viveu), ou seja, estamos lendo um livro dentro de um livro. Mas lembre-se: só temos a versão dela da história. Ela nos conta sobre seu relacionamento com sua namorada transsexual Abalyn, sobre o relacionamento com sua mãe e avó, sobre tentar se manter fora do manicômio e sobre Eva Canning, além de relatar sua história misturando suas alucinações com a própria realidade.
O livro tem uma atmosfera extremamente misteriosa e sombria, muito peculiar, especialmente quando traz a tona os fantasmas que Imp tem dentro de si, misturando-os a seus próprios medos, inseguranças e a crescente doença mental que a aflige e a impossibilita de distinguir o que é real do que é imaginário. Essa atmosfera consegue nos pegar no âmago e causar calafrios, mistura terror, misticismo e alguns elementos fantásticos, como fantasmas e sereias, e outros reais, nos colocando bem no olho do furação, em meio a um labirinto sem saída. É realmente desesperador se sentir na pele de Imp.
Imp mora em um cantinho de Rhode Island com sua namorada e em uma noite ela encontra uma moça nua e molhada na beira da estrada fitando o rio Blackstone, o nome dela é Eva Canning. Você a levaria para casa? Imp sim. Este é o pontapé principal da história, e eu diria até que é o motor que mantém a história fluindo pelas páginas. Essa personagem misteriosa que aparece e desaparece praticamente sem explicação vira uma obsessão para Imp e consequentemente para os leitores dessa história.
A sensação que eu tive conforme ia avançando na leitura era de que eu me aprofundava cada vez mais em um buraco sem fundo, como a toca do coelho em Alice, como se as garras de tudo aquilo que eu tenho medo estivessem me puxando para baixo, cada vez mais fundo. O terror que se aloja no coração de Imp é tão verdadeiro para ela que nos faz questionar o tempo todo que parte de suas memórias é verdade e que parte é ilusão causada pela doença, pois a própria narradora não tem tanta certeza.
A narrativa é tão minuciosa e não-linear que em alguns momentos chega a ser tão densa que é necessário fazer algumas pausas, até mesmo para refletir em meio ao turbilhão de acontecimentos entre passado e presente. As inúmeras referências a lugares, obras de arte, artistas e livros (tanto reais quanto fictícios) tornam o livro ainda mais recheado de elementos macabros, um dos mais impactantes pra mim foi a Floresta do Suicídio no Japão conhecida como Aokigahara.
É uma obra extremamente original, carregada de metáforas, devaneios e referências a obras de arte, como as que Imp tem fixação: A Menina Submersa (que dá título ao livro), de Philip George Saltonstall, e Fecunda Ratis, de Albert Perrault, ambas criadas apenas para o livro, mas que são tão bem descritas ao longo do livro que facilmente enganam os leitores e se passam por reais.
Imp luta incessantemente contra monstros interiores, com os quais muitos de nós podemos nos deparar vez ou outra na vida, e busca desesperadamente uma válvula de escape para sua desorganização mental e paranóia, para isto ela nos narra esta história, tentando compreender a si própria, nos revelando cada detalhe sombrio de sua mente, sem ordem, sem lógica, sem sentido algum, exatamente do jeito que é. Na maioria das vezes nosso maior medo é do desconhecido, do que ainda não sabemos como é, e esse é o pior dos terrores, o psicológico, que acontece apenas pra gente, de dentro pra fora. Ler esse livro é esquecer da lógica e mergulhar de cabeça no surreal. E aí, preparado?
Para fechar com chave de ouro, quero presentear os leitores do blog e fãs da DarkSide Books (que eu sei que vocês são!) com um exemplar de A Menina Submersa: Memórias (Limited Edition). Gostou? É só seguir as instruções no aplicativo abaixo (curtir a página do facebook da editora e do blog é obrigatório e seguir nas outras redes sociais te dá mais chances) e já estará participando! Boa sorte, pessoal! ♥