O Sol Partido, de João Mendonça, é um livro nacional de ficção fantástica que mistura prosa e poesia em uma inebriante dança entre gêneros literários e convida o leitor a voar pelas as ruas de Salvador para montar o quebra-cabeças dessa história.

A história é narrada em primeira pessoa por um protagonista sem nome, apontado apenas como “eu” durante toda a história. Esse protagonista vai nos apresentando aos seus seis amigos (meu amigo, Rasgo, Roque, Maricó, João e Coruja) entre recortes de diálogos e situações do cotidiano que aconteceram entre eles. A maioria das situações são rotineiras mas muitas outras aproximam-se do imaginário e do fantástico desafiando o leitor a interpretar e ler entre as entrelinhas.

“Sentamos no galho e ficamos a ver Rasgo indo em direção ao sol, em direção ao sol, em direção ao sol, ao sol… Um ponto cada vez mais preto se distanciava cada vez mais, até que o ponto preto ficava mais distante a cada instante, e ele desapareceu naquela noite, na última vez que nós o vimos junto de nós”

O livro é divido em 13 capítulos (sem títulos) que são intercalados com 70 poemas curtos, alguns de até uma linha apenas, e que podem ou não ter relação com o texto. A mistura entre prosa e poesia resultou em um texto quebrado, oscilante e com um ritmo irregular. Construção de narrativa essa que evidenciou ainda mais o tema central da obra: sentimento de saudade, perda, quebra. Tal qual o título, esta obra também está “partida”, assim como talvez as vidas e corações dos personagens que nela se apresentam.

Os capítulos desse livro são curtos e nem sempre tem relação entre si, ou seja, fica difícil seguir uma ordem cronológica dos acontecimentos ou até mesmo uma linearidade na construção da história, o que pode causar estranhamento e desconforto no leitor. É como se a história fosse construída através de retalhos e recordações, tendo em vista também os sentimentos do protagonista.

Entretanto há uma mistura de sentimentos que atinge o leitor em cheio durante a leitura, e os sentimentos mais marcantes são os de perda, de solidão, de saudade, de amizade e amor. Percebemos um protagonista afundado em memórias boêmias e nostálgicas de seus velhos amigos e suas “aventuras” pela cidade que tanto ama.

E toda essa história, prosa e poesia, é permeada de metáforas e imagens da natureza, como menções ao pôr do sol, ao céu azul, a tardes ensolaradas e quentes, sempre fazendo referência ao sol e ao clima que é inclusive aspecto característico da região onde se passa toda a história.

A proposta do livro é apresentar uma leitura leve e desconectada que mistura realidade e fantasia para contar uma saudosa história sobre amizade. A prosa poética em capítulos curtos também provoca no leitor essa sensação de leveza, que contrasta com a quebra de paradigmas de um texto que permeia vários gêneros literários e consegue tirar o leitor de sua zona de conforto.

Há um certo encanto e peculiaridade na escrita do João, mesmo ao relatar fatos corriqueiros, que desperta no leitor diversos sentimentos e sensações durante a leitura. Eu sinceramente fui pega de surpresa por essa leitura e confesso que fiquei muito encantada pela escrita do autor (assista aqui a resenha em vídeo). Vocês podem conhecer um pouquinho da obra do autor em sua fanpage e face pessoal onde ele disponibiliza seus minicontos para apreciação. E claro, boa sorte no sorteio de 5 exemplares do livro logo ao final deste post! ♥

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Publicação: Independente
ISBN: 9788591533800
Gênero: Ficção Fantástica
Páginas: 91
Minha avaliação:★★★★

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